Cara amiga, tu vais precisar de um copo, em cujo interior encontre-se razoável quantidade de água, mas não cheio até a boca. Afinal, tempestades demandam fortes ventos, e fortes ventos imprescindem de ar e espaço.
Acrescenta algumas boas descargas elétricas, muito barulho e escuridão. Tu podes obter esses últimos ingredientes facilmente: TPM, dor de cabeça, trabalho acumulado, casa bagunçada, trânsito engarrafado, supermercado lotado, fila de banco, bolhas nos pés, telefone tocando sem parar e fome. Ah... Raios, trovões e tempo feio em larga abundância, amiga!!! Serve-te à vontade!
Por fim, arremata a receita misturando homogeneamente todos os ingredientes, e acrescentando, aos poucos, uma discussão banal com qualquer um – muito possivelmente o teu namorado. Duas ou três frases atravessadas atiradas a esmo, cara amarrada, sarcasmo, deboche, e, por fim, a frase-estopim: “-Tu estás fazendo tempestade em copo d’água.” Pronto, amiga!!!! Oferece o prato ricamente decorado e regala-te com esbaldo!
Ao chegar o fim do dia (coisa que demora descomunalmente em dias assim, de tempestade em copo d’água), quando consegues cruzar o umbral de tua própria porta, desfazer-te do maldito sapato de salto agulha e bico fino, arrancar os brincos e o sutiã, engolir um Tylenol, desligar todos os telefones, morder um pãozinho francês, juntar as roupas sujas e socá-las no cesto, tomar um banho de mais de hora e, trajando a camiseta maior e mais velha, afundar-te na cama, tu vais lembrar de me perguntar: “-Que faço eu com o copo e a água?”
Pois é, minha filha... Diante de tais acontecimentos, a tempestade toma corpo mesmo sem copo d’água.
Então, faz o seguinte: Levanta da cama, liga o telefone, chama o namorado (ou o outro interlocutor infeliz em cima de quem desabaste teu dilúvio), faze as pazes, deseja boa noite, reza pra que o próximo dia seja mais brando, e bebe o copo d’água. De preferência, com adoçante (açúcar não, que engorda, e engordar é a última coisa que tu queres, vamos combinar).
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