terça-feira, 21 de outubro de 2008

Os sem-noção

Hoje sinto-me motivada a escrever sobre uma categoria especial de pessoas: os sem-noção.

Talvez seja um tanto difícil de descrever pormenorizadamente o que é um sem-noção, a não ser por suas atitudes (e, afinal, é isso o que nos define a todos, não é?). Faço um breve apanhado de atos típicos da espécie:
  • Gente que, quando se defronta com alguém em alguma porta - elevador, banco, loja, ônibus - não tem a percepção de deixar quem está dentro sair antes de entrar. Puxa vida, o princípio físico é tão claro: dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo! Se a criatura deixar o "sainte" sair, fica com mais espaço para entrar e acomodar-se!
  • Gente que telefona para os outros em qualquer horário e, percebendo acordar o interlocutor, sapeca um "-Te acordei?", para, ato contínuo, sair falando desenfreadamente sobre qualquer coisa de urgência zero. Como se o pobre interlocutor, apenas desperto, estivesse em condições de tagarelar.
  • Gente que lava roupa suja em público, submetendo os demais ao constrangimento das discussões e desentendimentos alheios.
  • Gente que não consegue ser discreta e se faz notar em qualquer situação - especialmente quando não é bem vinda.
  • Gente que pergunta à menina gorduchinha se a mesma está grávida.
  • Gente que lota a caixa de e-mails dos conhecidos - e desconhecidos - com correntes e mensagens sem sentido.

A lista é longa, infinita, creio. Mas até aqui já foi possível traçar alguns contornos do perfil do sem-noção.

Claro que todo mundo já "perdeu a noção" vez por outra. Não são os atos, isoladamente, que determinam o perfil. É a seqüência deles em repetição contínua.

Hoje tive duas amostras especialíssimas de sem-noçãozisse.

A primeira veio de um determinado moço, aprovado num concurso há pouco tempo. Antes de sua aprovação, o dito moço fazia questão de cumprimentar a todos os transeuntes, afirmando sua popularidade. Na falta de atestado de validade para o conteúdo, o sem-noção fazia propaganda livre de si próprio, vendendo-se como mercadoria de simpatia e afabilidade ímpares. Depois de sua aprovação, outro mundo, outro mundo!!! Já reconhecidamente pertencente à casta superior, o sem-noção não cumprimenta mais os párias. Só se relaciona com que está "acima" de si. A moncoronga aqui resolveu bancar a educadinha e cumprimentar o moço. Recebi em troca uma mirada de viés, acompanhada de um onomatopéico "humpf".

A segunda veio do infalível pavão da campanha gaúcha, personagem habitué deste meu humilde blog. Propondo-se a falar brevemente sobre dado assunto, estendeu-se por duas horas e meia, em pura retórica, inflamado, gesticulando e tecendo odes - desprovidas de maior essência ou análise. Ao findar seu discurso proselitista, pediu desculpas por ter avançado "um tantinho" no horário - e usou o pedido de desculpas como deixa para mais uma saraivada de eflorescências vocabulares. Deuzulivre, como se diria na minna saudosa Erechongas. Deuzulivre. Essa última fez-me recordar de uma frase lida há poucos dias: "A maior parte das pessoas é suficientemente educada para não permitir-se falar com a boca cheia, mas não suficientemente perspicaz para impedir-se de falar com a cabeça oca." Isso aí.

Resumo da missa: com gente sem noção não dá, mas corre-se o risco de morrer sozinho... Ou de viar "O Alienista".

Beijos e boa noite (diz a Cib, mordendo um wrap de alface, broto de feijão e molho de gergelim - blerg).

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