quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Bodas de Nácar


Hoje, meu pai e minha mãe fariam 31 anos de casamento, caso meu pai ainda fosse vivo. Pensei em muitas coisas...

Como deve ser difícil ficar tanto tempo com a mesma pessoa. Sério, sem me aliar ao bloco dos "casa-separa-volta-descasa-casacomoutro", acho que deve ser muito complicado ficar por tanto tempo com a mesma pessoa. Sim, porque a pessoa tem defeitos, manias, limitações e outras coisas que o tempo só amplia... Claro, qualidades também. Mas quem presta atenção nas qualidades? Todo mundo foca nos defeitos mesmo, ainda mais com o passar dos anos.

Qualidades a gente vê quando se apaixona. Daí pra diante, a gente vê defeitos e mais defeitos.

Eu fico imaginando... Se apaixonar, ver as qualidades serem engolidas pelos defeitos e, então, nunca mais se apaixonar por outra pessoa? Putz! Harakiri emocional!

Acontece que não é por aí, né? É assim que todo mundo vê, porque é praí que todo mundo olha. As qualidades também aumentam com o tempo. E a cumplicidade, a intimidade, a confiança, o companheirismo...

Meus pais brigavam como duas fúrias. Às vezes, ficavam sem se falar por alguns dias. Às vezes eu achava que nunca mais iriam voltar a ficar bem. Aí, acabava o gás, e minha mãe, como se nada houvesse acontecido, gritava, lá da cozinha:
"-Nêgo, vem me trocar o gás, por favor!!!"
E ele ia, assobiando.
Quando méu avô morreu, meu pai abraçou minha mãe.
Quando meu pai adoeceu, minha mãe não quis que mais ninguém cuidasse dele.
Quando decidiram comprar uma casa maior, sentaram e planejaram.
Quando chegou a hora de eu sair de casa, voltaram a ter a vida só pra eles.
Quando me formei na graduação, olharam um para o outro com cara de "dever cumprido".
Quando saíam pra caminhar, à noitinha, davam as mãos.
E continuavam brigando como duas fúrias.

Pouco antes de morrer, meu pai me confidenciou, muito em segredo, que minha mãe deu sentido à sua vida.
Agora que está sozinha, minha mãe parece não saber o que fazer consigo e com seu tempo.

E eu não consigo imaginar uma vida diferente pra mim: também quero trinta e tantos anos de monogamia, defeitos, fúria, companheirsmo, apoio, cumplicidade, ternura, sintonia, planos, esforços, amor, saudade, desejo, parceria e "-Nêgo, vem me trocar o gás, por favor".

Ah, e só pra constar, meus avós fizeram 63 anos de casamento. Só não fizeram mais porque meu avô morreu. Segundo as más línguas, foi o único jeito de se livrar da minha avó. Tsc, tsc.

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