quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Nem pense em aposentar o nariz vermelho...


Gente, tem coisas que se consegue aturar numa boa: ônibus lotado na segunda de manhã, calor senegalês, fila de banco, dinheiro acabando no dia 20, vizinhos funkeiros, falta de energia elétrica, enxaqueca na sexta à noite... Tudo isso dá pra levar numa boa.

Porém, existem coisas que não se pode suportar. Aliás, existem coisas que suportar seria imoral. Uma delas é o que o digníssimo governo do Estado do Rio Grande do Sul pretende fazer com minha amada mãezinha. Explico:

Mimami é professora aposentada da rede estadual de ensino. É formada em pedagogia e pós-graduada em psicopedagogia. Está velhinha, já, e doentinha (uma doença feia cujo nome eu não digo, não digo e pronto). Recebe a sua aposentadoria todos os meses, e é daí que tira o seu sustento.

É de conhecimento público que aposentadoria de professor, nesse país, não sustenta ninguém, ainda mais quem precisa investir em tratamentos médicos caros. Mas nós apertamos daqui, esprememos dali e o dinheiro acaba dando, bem esticadinho, pra chegar com razoável dignidade ao final do mês.

Recentemente, o advogado da família nos procurou, informando que mimami poderia promover uma ação contra o governo do estado, em função de perdas salariais acumuladas nos últimos anos em decorrência de uma "falha de cálculo", a partir daquela que ficou conhecida como "Lei Brito". Mimami deciciu promover a tal ação. Ganhou, vejam só! A justiça gaúcha condenou o governo do estado a pagar os retroativos de mimami na ordem de R$38.000,00. O governo recorreu da decisão, o que todos sabemos ser dever de ofício. O recurso foi indeferido. Então, o governo ofereceu, para efetuar o pagamento - que se ressalte bem, não se trata de indenização, mas de salários que não foram pagos durante anos - duas possibilidades:

1. Pagamento da íntegra da dívida, em precatórios que vencem em 20 anos (mimami tem 67 anos e está doente daquela doença feia já há 11);

2. Pagamento em dinheiro vivo por meio de acordo, pelo qual eles oferecem a quantia de R$12.000,00, devendo ser descontados 9% a título de previdência estadual e 15% a título de imposto de renda;

Aí eu pergunto, caríssimos, se alguma dessas alternativas é minimamente considerável.

Pensei em propor o seguinte ao governo: eu pago os meus impostos em títulos que vencem em 20 anos ou então com 68,5% de desconto (mais 24% de desconto sobre o que sobrar), igualzinho ao que eles ofereceram pra minha mãe. Será que eles topam?

Gente, sério, estou tão furiosa com isso que nem sei do que sou capaz. Acho que vou procurar o circo pra ver se estão contratando palhaços. Essa história fez com que eu me sentisse especialmente vocacionada.

3 comentários:

Raquel, Augusto e Agatha Drehmer disse...

Estou passada! PASSADA!

E sei bem do que você está falando: mami também é professora aposentada da rede estadual de ensino (de São Paulo) e também tem uma ação rolando. A última levou uns dez anos para ser finalizada; esta, a gente nem imagina quando acabará.

É palhaçada demais! Espero que haja uma solução melhor do que esse INSULTO proposto para ela!!!

Cib disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cib disse...

O pior é que não existe outra alternativa. Raq... O jeito é escolher o desaforo menos indignante e berrar muito de insatisfação.
Beijo, e tomara que tumami tenha sorte melhor que mimami.