sexta-feira, 11 de agosto de 2006

Carta a uma amiga muito querida

Há anos não nos vemos, nem ao menos nos falamos, e estamos beirando o esquecimento...
Já não fazemos parte da rotina uma da outra, já não sabemos mais sobre nossas compras, nossas idas ao dentista, nossas dores de cabeça, nossas pequenas alegrias, ou nossos dilemas cotidianos.
O tempo passa depressa, e nos perdemos em milhares de atividades que, se analisarmos bem, não são tão importantes quanto o sentimento de carinho que temos uma pela outra. Entretanto, entre deixar de levar a roupa na lavanderia, de ir ao supermercado, de redigir relatórios, de assistir palestras, de pagar contas, de visitar clientes, de ir à academia, e nos falarmos, acabamos deixando, uma a outra, sempre pra depois.
Talvez por contarmos automaticamente com nossa mútua afeição, por nos crermos sempre presentes, independente da quantidade de atenção que nos dispensássemos, acabamos nos abandonando.
Sinto tua falta. E, ainda assim, não penso mais em te procurar. Sempre existiria entre nós uma culpa constrangida, uma ausência magoada de tantos anos...
Ainda converso contigo, como agora, quando tenho tantas coisas a contar, mas não sei por onde começar.
Tenho muitos medos - velhos e antigos, do nosso tempo; velhos e recentes pra ti, de quando nos afastamos; novos para mim... - e queria tua segurança emprestada um minuto.
Me ensinaste a sacudir os cabelos, me equilibrar na ponta dos pés, e enfrentar a tudo com vontade, com raiva, com coragem.
Sinto falta do teu incentivo. Busco na memória tuas frases, para que me animes mesmo distante.
E, quanto ao que mais há de novo, te digo: uma nova eu, com vontade de ser como era antes do hiato que os separou, e bem perto disso. Me permito expectativas, das quais me havia desfeito por insitinto de preservação.
Podes bem entender meu medo... Efeito colateral das expectativas. Medo bem vindo.
Só falta a tua voz, teu deboche, e fica aqui uma grande saudade.
Parece que isso é o que mais nos preenche à medida em que amadurecemos: saudades...
Cuida-te. Saiba que penso em ti, com o mesmo carinho de sempre. E conta comigo.
Com todo meu coração, tua irmãzinha,
Cib.

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