quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Pra além dos cabelos no vento


Mais um dia de vento.

Penteio os cabelos e saio, na esperança de que tudo fique como deixei: fios no lugar, comportados, na confortável certeza de que a imagem que vi no espelho, antes de sair, permanece lá, e é assim que os outros me vêem.

Vem o vento, impiedoso, e desarruma meus cabelos. Os fios, mal-comportados, chicoteiam a face, grudam no batom, fazem riscos rosados nas bochechas... Outros fios, mais atrevidos ainda, incitados pelo vento - esse maroto - cutucam o olho, o fazem coçar... Lá se vai a mão borrando o rímel.

Chego onde deveria estar e vou direto ao espelho. Em nada me pareço com aquela que deixei no espelho de casa. Adeus conforto, adeus segurança. Não me reconheço, o que vou fazer comigo? E agora, menina?

Se ias sair no vento, devias ter prendido os cabelos...

Não te proteges, não te prevines, como, então, esperas que não te afetem as mudanças - em ti mesma - operadas pelos agressores externos?

Que faço eu com essa aí que nem sei quem é?

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