Acordei de madrugada. Sem sobressaltos, sem susto, sem telefone tocando. Apenas acordei. Não abri os olhos. Fui escorregando na cama bem devagar, tentando me encaixar num abraço. Acabei alcançando a parede fria (bem diferente do peito acolhedor que eu imaginava encontrar).
Abri os olhos, tentando compreender o que, diabos, estava errado ali.
A errada era eu... Eu que dormi e sonhei que estava aninhada em um abraço, e acordei encostada na parede fria.
Aos poucos, entendi. Eu não estou em casa. Estou onde? Eu conheço o cheiro daqui... Tudo escuro... Ah! Casa da minha mãe. Sim, claro, Natal (respiro fundo).
Dormindo, voltei para onde queria estar: meu próprio quarto e o abraço que me faz falta...
Não dormi mais. O que foi bom, até.
Bom pra pensar, reavaliar, entender... Pra sair do corpo, mas não em função de um sonho. Sair de mim e me olhar de fora. Acho até que consegui...
Desse episódio todo, e da ladainha que o antecede, mas não cabe mais pensar nela, nasceu uma grande intenção: Aproveita, menina boba, o que de bom existe ao teu redor agora mesmo. A lista de hoje foi bem grande:
- O cheiro de infância na casa da minha mãe;
- O café da manhã me esperando, na mesa;
- O sorriso do tio que eu amo como se fosse meu irmão;
- A chance de brincar de boneca com as priminhas pequenas;
- O sanduíche da tarde, feito com os destroços do infeliz peru e o molho de laranja sobrados da ceia;
- A festa que o cachorrinho da mãe sempre faz quando me vê;
- A visita da amiga mais antiga (e ver que a nossa amizada não mudou em nada, apesar da distância);
- A lembrança do meu pai, pairando muito forte à minha volta, e me confortando, como se dissesse "tu não estás sozinha porque eu estou sempre contigo";
- A pancadinha de chuva no final da tarde, prometendo uma noite fresca e boa de dormir;
- A certeza de que, por maior e mais inesperada que tenha sido esta última queda, eu saio mais forte, mais inteira, mais serena e bem melhor do que entrei.
- A certeza, mais concreta ainda, de que as próximas quedas virão, mas vão me encontrar de peito aberto, sem medo e pouco me importando com o que possa parecer...
Bela lista. Durmo satisfeita, com as costas bem apoiadas no travesseiro que eu coloquei entre a cama e a parede (pro caso de eu acordar confusa de novo, pra que demore um pouco mais até que eu me dê conta da parede fria no lugar do abraço, e eu possa, talvez, voltar a dormir mais leve).
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