segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Medos


Eu, medrosa confessa, temo tudo o que anda, respira e sente, principalmente eu mesma.

Tenho medo desde sempre. De aranhas, escorpiões e outros insetos que costumavam se esconder no meu quarto de criança, esperando, malévolos, que eu acordasse com vontade de fazer pipi e os encontrasse a poucos centímetros do meu travesseiro.

De cobras, como as que tomavam sol nas pedras do jardim da casa da minha mãe (sim, eu cresci no meio do mato, uga-buga).

De taturanas, como a que encostou no braço do meu pai e o fez parar no pronto-socorro, totalmente roxo e sem conseguir respirar.

Do fracasso, como o de não passar no primeiro vestibular e ter que ouvir da família inteira "o quanto estavam desapontados comigo, que vergonha, ai meu Deus!".

Do telefone tocando tarde da noite, como quando minha mãe ligou pra dizer que meu pai havia morrido.

De me atirar de cabeça... Como fiz sempre, e despedaçar o crânio e a alma.

Mas, se medrosa, mais corajosa ainda.

Eu mesma mato a atrevida aranha que resolver cruzar meu caminho. E não deixo de ir a lugar algum por medo de encontrar com elas. Vou rezando pra não ver nenhuma, mas, se as vir, piso em cima sem dó. Morra, desgraçada, e volte pro inferno.

Ainda não precisei tomar nenhuma providência mais efetiva com relação a cobras. Mas igualmente não deixo de ir a lugar algum por medo delas. Só não vou sozinha. E, se vir alguma, vou dar trabalho.

Taturanas também não me impedem. Não me arrisco a pisar nelas, mas jogar álcool e um fósoforo aceso é uma boa alternativa.

Medo do fracasso ainda me limita um pouco. Mas vamos lá! Dizem que a média é de cinco falhas pra cada acerto, não é? Ainda dá pra arriscar tentar um pouco.

O telefone toca, sim, no meio da noite. E eu pulo da cama pra atender. Algum dia vai ser uma notícia ruim, paciência.

E, quanto a me atirar de cabeça, com medo ou sem, não sei fazer diferente. Melhor providenciar um capacete.

Só um dos medos foi totalmente superado: medo do escuro. De não me mexer, deitadinha na cama, com medo de ser notada pelos monstros, assombrações e criaturas das trevas, passei a cobrir os olhos pra dormir melhor. Tanta coisa boa acontece no escuro... Sonhar, inclusive.

4 comentários:

Raquel, Augusto e Agatha Drehmer disse...

"Melhor providenciar um capacete" é a melhor metáfora para a vida! Adoro!

Beijooo e boa semana!

Cib disse...

Minha terapeuta (sim, eu sou maluca em obras) me disse que só o capacete não adianta, Raq... Precisa também ver se o laguinho é mais profundo do que meio metro, pra evitar a compressão medular à Marcelo Rubens Paiva. Beijo! Coragem pra encarar a semana!

Unknown disse...

Gostei da evolução do texto... uma descrição deliciosa de medos antigos...e uma transformação corajosa para enfrentar realidades presentes...e ironia à mistura...delicioso...
P.s. Também vou comprar capacete!

Vanessa disse...

Que meiguinho o seu texto !!!

Confesso que morro de medo de galinha ...
E quanto ao capacete, já tenho um estoque, pq não me permito dar nd medido em conta-gotas.

Bjs!