quinta-feira, 9 de julho de 2009

Na prateleira


Quando canso de ter os pés gelados de incerteza e já não faz sentido tentar conversar ou corrigir os erros que percebi, pra onde eu vou? Pra prateleira.

A minha prateleira é um lugar confortável, customizado ao longo do tempo. Tenho aqui um bom sofá, alguns livros queridos, dois ou três discos, muito chocolate e milhares de litros de chá.

De volta a ela, vou tirando a poeira dos discos e escutando-os de novo, com calma, aproveitando o tempo que ganhei para estar comigo... Acendo uma ou duas velas - não pela falta de luz, já que minha prateleira é bem ensolarada, mas por que gosto da ideia de calor que tenho com elas - visto meu velho pijama de flanela, enrosco os pés na manta de lã e, aconchegada no sofá, degusto meu livro favorito...

Aqui, tenho súbita consciência de mim. Falo baixo, penso devagar, respiro fundo. Se fecho os olhos, logo sinto os nós dos músculos das costas se desfazerem. Durmo sem sonhar, acordo descansada.

Tenho mais tempo para o gato, para a pintura inacabada, para as cartas que prometi escrever...

Voltei pra prateleira e, estranhamente, parece que nunca saí daqui. Lembro em preto e branco de quando alguém encostou uma escada (minha prateleira fica bem no alto) e pediu-me que descesse. A volta fiz sozinha, aos pouquinhos... Subi um degrau de cada vez. Quando terminei a subida, chutei a escada.

Ainda sinto um tanto de frio, mas isso é resolvido mui facilmente: basta providenciar uma boa porta para a prateleira. Com tranca e vedação. O vento gelado consegue atravessar as menores frestas...

Um comentário:

Dr.do absurdo disse...

Nada como estar com a gente mesmo. Não há companhia melhor.

Beijo