quarta-feira, 6 de setembro de 2006

O azar é do poeta

Nós, os pobres mortais destituídos de inspiração ou talento poético, precisamos aprender a ser felizes no cotidiano prosaico mesmo.
Não precisamos encontrar a frase perfeita para dizer que gostamos de alguém - simplesmente dizemos: "-Gosto muito de ti."
Não precisamos ver reflexos brilhantes no fundo dos olhos de ninguém - nos basta olhar no fundo dos olhos de alguém.
Não precisamos ser admirados pela delicadeza de nossos toques ou palavras - tocamos de mãos espalmadas e falamos o que sentimos.
Tá. Reconheço que existe poesia nisso. Mas não a forçada poesia de quem quer encaixar o mundo real numa ficção bonitinha, onde existem heróis, princesas, valores elevados, sofrimentos purificadores e nobrezas de alma. O mundo real, feio como ele é, nos serve para sermos felizes!
Quanto tempo eu levei pra perceber que, com a Graça de Deus, eu não sou poetiza!
Fui abençoada com a mansa aceitação de tudo aquilo que não é delicado, com uma rica ausência de sensibilidade e com a maravilhosa capacidade de superar as dores de todos os dias.
Eu consigo ser feliz mesmo assim!!!
Palmas pra mim! Antes tarde do que mais tarde ainda, e que bom que percebi que não preciso de um conto de fadas.
Eu sou feliz com a louça na pia, o telefone sem sinal, o esmalte descascado, erros de Português e mesmo que nem todo mundo me ame.
Isso me liberta de uma maneira tão abrangente, e me tira tamanho peso de cima dos ombros!
Azar o de quem não é como eu. Eu sou feliz por decisão, por abandono, por tranqüilidade, porque me permito.
Melhor, só com chocolate suíço.

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