sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Diário de muletas


Fiquei um mês com o pé imobilizado por uma tala de alumínio. Quem dera apenas meu pé estivesse imobilizado... Fiquei toda imobilizada, isso sim!


As muletas me ajudavam a me locomover (desde que em chão plano e a curtas distâncias) e a ficar em pé (pelos minutos em que eu conseguia suportar a dor), mas me roubavam as mãos!!!


Como eu poderia me virar sem mãos, pergunto eu?


Em casa, sozinha, ficou quase impossível. E dá-lhe louça acumulando na pia da cozinha... E dá-lhe roupa suja avolumando no cesto da área de serviço... E dá-lhe canseira de ficar na cama!


Trabalhando, no interior, não era mais fácil. Ir pra rodoviária já era uma Odisséia: quatro andares pra descer, de muletas, com pasta, notebook, bagagem... Entrar no táxi era outro sacrifício. Carregar tudo até o ônibus, uma novela (subir no ônibus era a coisa mais difícil de todas, podem crer). Ir para a faculdade era outro problema. E ficar duas horas em pé, dando aula, era a cereja do bolo do infortúnio.


Entretanto, foi bom! Sofrido, mas bom. Pude perceber que sou muito amada por muitas pessoas. Aí vai uma lista de agradecimentos, para todos os envolvidos na minha épica estréia como professora de pé entalado:


Ao meu amor, meu anjo da guarda, meu namorado. Ele nunca, em momento nenhum (e aí não me refiro só ao episódio do tornozelo torcido), poupou esforços para me fazer o bem... Desde me pressionar até as lágrimas (minhas) pra que eu tentasse a docência até me carregar no colo escada acima, nos benditos quatro andares que separam meu apartamento da terra firme. Obrigada, amor da minha vida!


À minha mãe, que me afofou, mimou e engordou nesses dias de inércia, e que me acomodou no seu sofá, bem em frente à tv, munida de todas as comilanças do mundo. Obrigada, mam!!!


À Tia Marlene, minha tia mais linda do mundo, que me carregou pra cima e pra baixo, em infinitas "caroninhas", e me aqueceu o coração com sua risada ímpar. Muito Obrigada, tiazinha!


À Tia Vera, minha tia-amiga, minha tia-parceira, minha tia-cúmplice, com quem eu converso de tudo (até de futilidades), que também me transportou por todos os cantos. Muito Obrigada, Tia Vera!


Ao Tio Dimas, que tem sido carinhoso e cuidadoso comigo tanto quanto meu pai foi, e que me transportou, que comprou passagens de ônibus por mim, e que me diz sempre: "-Cibelina, me quira bem, que não te custa nada!". Obrigadão, Tio Dimas! Te quero muito bem, sim!


À minha madrinha, que cuida com carinho desta "filhota" desde bebê, que sempre esteve presente, que sempre soube o que me dizer, e que fez parte do "pelotão da carona". Muito Obrigada, Madrinha!

À minha priminha Gabrielle, que é um doce, e foi me fazer companhia. Obrigada, Bee!


À Tia Odila, que me emprestou as muletas - sem elas, eu não teria saído da cama, não teria dado aulas, não estaria tão feliz. Obrigada, Tia Uda!


À minha adorável amiga Camilla, que me acompanhou em todas as "aventuras de pé estropiado". Ela é fantástica, parceira e fiel. Muito Obrigada, Milla!


Ao pessoal do HPS de Porto Alegre, aos meus médicos, Dr. Rafael e Dr. Juarez, e à Miriam, minha fisioterapeuta. Obrigada, obrigada, obrigada.


Aos meus alunos, que me acolheram muito bem, e se esforçaram muito pra não zombar muito da minha triste figura. Obrigada, crianças!


E, finalmente, a todas as pessoas que eu não conheço, mas que me ofereceram ajuda: pra acomodar a bagagem no ônibus, pra carregar coisas, pra abrir portas, pra dar licença, pra tudo. Obrigada, especialmente a eles, por recuperarem minha fé na humanindade.


Nós temos salvação!


E, finalizando, comunico que estou novamente no controle das minhas habilidades motoras. Agora, só falta o salto alto, e então me sentirei novamente um ser humano completo.

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