segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Doce Frankenstein


Dizem por aí que recordar é viver... então, aí vai: essa já estava postada no blog velho, e a Tita desenterrou por e-mail há alguns dias. Vale a republicação.


Doce Frankenstein

Escrito a quatro mãos por Tita Aragón e Cibele Cheron.

(Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é fruto da sua imaginação fértil, minha filha. Não tente fazer isso em casa porque isso ‘no ecziste... é um psiquismo’)

Atecedentes do monstro, ou apologia das culpadas. Tita, minha doce e amável amiga, parceria de fé na requintada arte de fazer corar as orelhas de nossos desafetos e ex-afetos. Eu, a criatura complicada e plena de vazios, mistérios, dúvidas e teorias infundadas já familiares aos transeuntes habituais.

Auspisciosamente, nos reunimos via MSN (coisas fantásticas que só a tecnologia pode fazer por nós: satisfaçamo-nos com as telas... Afinal, se os diamantes são os melhores amigos de uma garota, o cristal líquido deve ser um desses companheiros de atividades que algumas de nós têm por interesse no Orkut... Ops! De volta ao tema!), o que rendeu uma pitoresca crônica. Nosso crivo e juízo, óbvio. Tita a criou e publicou, maestralmente, eu seu blog. Eu a copio e emendo... Pra deixar com mais cara de Cibele. Sim, mais chata... Sim, pior a emenda que o soneto... Sim, "nada se perde, nada se cria...". Vamos ao crime:

Noite dessas, conversando pelo MSN, Tita e eu chegamos à conclusão de que tá faltando ‘foda-se’ no mercado. Falta assumirmos que muito de nossas crises e indigestões seria resolvido com um simples "foda-se". Ou melhor, mais século XIX: fornique-se. Sim, estou escrevendo palavrão. Retire as crianças e moçoilas pudicas da frente da tela.

Ninguém merece homem dodói, que fica inventando desculpa e se fazendo de vítima pra mulherada cair na conversa mole de que a ex é um monstro terrível, que despedaçou o coraçãozinho dele. Foda-se! Megera é a mãe!
É isso aí! Nós, as ex, somos mesmo umas medusas inclementes. Se não queremos casar, é por que não queremos; se queremos é por que queremos; se não falamos nada é por que estamos preparando alguma; se falamos é culpa da TPM... Não olhem nos nossos olhos, homens!!! Vocês virarão pedra! Ou, pior: cairão na rede do DR (discutir a relação), de onde não há escapatória ilesa!

Quando quiser ‘namorar’ um cara (o que não significa colocar um par de algemas nele, cruz credo!) tem que perguntar primeiro pra ex mais recente por que motivo deu um pé na bunda do desinfeliz.
Bom mesmo seria pedir uma cartinha de recomendação pra namorada anterior e um atestado de sanidade mental dos familiares, no caso de eventual procriação. Eventual. Eventualíssima!!!

O mais recomendável, já que muitos ‘homens’ tratam suas mulheres como objetos desprovidos de inteligência ou meras substitutas de sei-lá-o-quê, seria publicar um anúncio mais ou menos assim:

Procura-se homem, na faixa dos 25 aos 35 anos, com boa aparência (leia-se cuidados consigo próprio, e não estereótipo de beleza, que homem muito bonito tem cara de mulher, e isso não é o nosso negócio), instrução superior, versado e de bons humores, livre de ônus e desembaraçado de quaisquer outros compromissos, sejam por afinidade, ascendência ou descendência, com experiência comprovada e atestado de monogamia.

Fundamental que possua fonte de renda própria e seja afeito aos hábitos de higiene pessoal. Que faça suas necessidades em local apropriado, saiba operar uma descarga hidrossanitária e baixar a tampa do vaso. É imprescindível que saiba usar com destreza escovas de dente, fita dental, frascos de desodorante, creme de barbear e demais produtos higiênicos. Perfumes utilizados com moderação e sem fins disfarçativos também são bem vindos.
Que saiba lavar e enxugar os dedos dos pés, assim como cortar e limpar suas próprias unhas.
Que não ronque ou babe na fronha, que também não fale com a boca cheia, não emita gases ou vapores como patética demonstração de sua masculinidade, porque ser macho não significa ser tosco.
Que abra portas, carregue as compras, alcance as prateleiras mais altas, fale e escreva de maneira inteligível e domine o básico da gramática de sua língua natal.
Que troque pneus, fusíveis, meias e cuecas.
Que seja generoso ao entender que trocar um sábado de futebol por compras no supermercado não vai fazer com que ele seja menos másculo.
Que goste de comédias românticas, poesia, boa música, filosofia, literatura de qualidade e celulite.
Que entenda um pouco de vinhos ou espumantes.
Que seja gentil com as pessoas, sem importar idade, sexo, time de futebol, partido político, crença, cor da pele ou condição social.
Que saiba onde fica o clitóris, como ele funciona e o que fazer com ele quando o encontrar.
Que saiba entender que não é NÃO e que sim pode significar TALVEZ. E que TALVEZ tanto pode significar SIM como NÃO, depende da pergunta a que se está respondendo.
Que não goze tão depressa, nem tão devagar e que não se importe de conversar longamente depois, ao invés de virar pro lado e dormir feito um orangotango em transe (essa do orangotanto foi ótima, idéia da Tita!!! também podemos comparar o homem que vira pro lado e dorme a outros animais... Menos o Louva-a-Deus, coitado, que ao invés de dormir, vira lanchinho...)
Que saiba cantar com voz de travesseiro e traga chá, mimo e analgésico quando a gente tem cólica ou dor de cabeça.
Que saiba cozinhar o básico e limpar o que sujou.
Que leve o café na cama de vez em quando e compre flores, sem ser pra aplacar a culpa. Porque flores querem dizer exatamente isso, filha: alguma coisa ele aprontou e a consciência tá pesando... Se é que o tipo veio com esse opcional: consciência.
Que conheça o significado e o emprego das expressões: com licença, por favor e muito obrigado.
Que nos chame por apelidos carinhosos, mas não ridículos. Pitchuquinha e bunzunguinha estão fora de cogitação. Princesa também, gata nem se fala, e "benhe", ora, francamente!!!
Que se vista com discreta elegância e nunca - NUNCA - use camisa de manga curta, calça social e meias brancas com mocassins, nem pochete, capanga, gravata com bichinhos, óculos espelhados, cuecas aparentes, camiseta regata ou adornos como pulseiras, correntes ou qualquer outro enfeite bizarro de metal - muito menos dentes. PRINCIPALMENTE dentes.
Que não fique obcecado com a idéia absurda de que as mulheres SEMPRE querem colocar uma aliança bem grossa no dedo dele, no dia seguinte. Preferimos colocar de volta a placa com o aviso "disponível", ao invés da aliança.
Que saiba fazer massagem, que saiba fazer sonhar. Sonhos, NÃO pesadelos.
Que perceba, essencialmente, que mãe é completamente diferente de mulher ou namorada. Que não atenda ao telefone no meio de qualquer intercurso pra falar com a "mamãe"...
Que saiba nos deixar explodir e chorar na TPM, que ela existe, sem – ABSOLUTAMENTE - ser frescura de mulher. Até por que eles não agüentariam nem meia TPM.
Que entenda que ser leal e ser fiel são coisas diferentes. E que seja os dois, ora bolas!
Que sempre nos veja cinco quilos mais magras do que estamos, que repare quando mudamos o cabelo ou o perfume e saiba nos recompensar depois de uma sessão de depilação com cera quente.
Que saiba discutir a relação e que encare isso como uma coisa positiva. Que não tenha medo ou vergonha de botar pra fora o que pensa ou sente. Que goste da nossa mãe, das nossas amigas e dos nossos bichos. Que goste de si mesmo, mas que goste mais ainda de nós.
Que nunca peça um tempo, que saiba dialogar sem revirar os olhos.
Que morra de medo de ser abandonado por nós.
Que tenha uma pitadinha de ciúme, uma de pimenta, uma de açúcar, uma de timidez e uma de sem-vergonhice.
Que conheça, pelo menos, o nome de uma estrela, cometa, planeta ou nebulosa e que nunca nos chame pelo nome de outra pessoa.
Que tenha sensatez e insensatez.
Que saiba ser anjo e louco.
Que nos rapte para adoráveis interlúdios nos finais de semana, mas adivinhe quando queremos ficar sozinhas.
Que nos telefone no meio da tarde, numa terça-feira, só pra dizer que pensou na gente, e não faça drama quando queremos sair pra dançar com as amigas, numa sexta à noite.
Que saiba rir de si mesmo e nos leve a sério.
Que saiba falar bobagem e discutir física quântica.
Que tenha opiniões formadas, mas nada de muito ortodoxo ou fundamentalista.
Que respeite nossos sentimentos e acredite neles.
Que seja flexível por dentro e por fora, e rijo quando vem ao caso.
Principalmente quando vem ao caso.
Exigem-se referências.

Como tudo isso é pura ficção, neste momento, cai o pano e entra a música incidental – Tema da série Além da Imaginação.

Se você acha que já encontrou, minha filha, olhe mais de perto... E tenha sempre a mão uma caixa de lenços de papel, outra de Prozac, e outra de paciência... Ou então, pare de ser tão exigente e faça como nós, na bela conclusão a que chegamos: Falta foda-se, e álcool... Só existe homem que não presta pra quem não passou, ainda, da primeira dose. De álcool, não de homem!

Um comentário:

CarolBorne disse...

Menina, cada vez que eu leio este texto, mais me apaixono por ele!
Uma verdadeira obra-prima a dois teclados!!
Hehehehe!
Beijos!