Confesso um vício: revistas antigas. Antigas mesmo, não só velhinhas. Tenho perdição por uma coleção de Seleções do Reader's Digest que meu avô mandou encadernar nas décadas de 40 e 50. As leio compulsivamente, e adoro vê-las enfileiradas, em suas capas duras, na estantes de livros do quarto que eu ocupava na casa da minha mãe.
Através delas, vejo o quanto o mundo mudou muito e nada, ao mesmo tempo. Dei com este texto, na semana passada, quando estive por Erechongas em expedição etnográfica (visitar Erechongas sempre é uma experiência antropológica...):
"Quais dos defeitos dos adultos?
(entrevista realizada em 1953 com crianças de cinco a sete anos de Nova Jersey)
- Os adultos prometem coisas, depois esquecem, ou dizem que não foi bem uma promessa, mas um "vamos ver".
- Os adultos não fazem as coisas que mandam as crianças fazer - como guardar suas coisas, andar limpos, ou dizer sempre a verdade.
- Os adultos não deixam as crianças se vestirem como querem, e nos obrigam a usar coisas das quais não gostamos porque agasalham bem; mas quando saem, vestem o que querem, ainda que não agasalhe bem.
- Os adultos nunca ouvem as crianças: decidem tudo por nós sem nos perguntarem nada, e pensam que sabem do que gostamos mais ou do que não gostamos.
- Os adultos erram, mas não confessam seus erros; fingem que a culpa é de outra pessoa. Porém, nos obrigam a assumir nossos erros e a pedir desculpas o tempo todo.
- Os adultos interrompem as crianças e não nos deixam falar, mas não permitem que as crianças os interrompam, mesmo que seja importante.
- Os adultos não respeitam nossos objetos, e sempre os tratam como tralha. Jogam fora coisas que são importantes para nós e depois menosprezam nossa tristeza.
- Os adultos não têm regras para nos aplicar castigos: às vezes, por coisas insignificantes, nos punem severamente. Outras, quando cometemos faltas graves, não se importam e deixam passar. Nunca sabemos ao certo o que é grave e o que não é.
- Os adultos queixam-se que damos trabalho e os atrapalhamos, e sempre se irritam conosco quando estão cansados ou frustrados, ainda que apenas estejamos agindo como sempre.
- Os adultos vivem em função do dinheiro, mas nos dizem que ele não é a coisa mais importante do mundo.
- Os adultos falam barbaridades da vida alheia, mas nos repreeendem se repetirmos o que disseram.
- Os adultos sempre desconfiam dos segredos das crianças, e quando estamos inventando alguma coisa, logo acham que é travessura ou coisa errada.
- Os adultos sempre nos dizem que foram crianças melhores do que nós: mais obedientes, respeitosas e aplicadas. Mas nunca procuram entender que ser criança agora é diferente do que ser criança quando eles o eram."
Nossa! O mundo muda muito e muda nada; tenho ou não tenho razão?
Um comentário:
Aí, deu vontade de voltar a ser criança... :) O mundo dos adultos perdeu-se, nesse ir e vir sem fim. Por incrível que possa parecer, eu acho que nós entendíamos o mundo muito melhor que hj, como adultos. Tudo era mais simples....
beijo e ótima semana!
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