quarta-feira, 4 de março de 2009

A (in?)coerência da antipatia


Cada um na sua, né? Cada um com seus problemas e todo mundo tem direito às suas próprias idiossincrasias, certo?

Mas algumas coisas dos outros me atiçam uma curiosidade implicante. Por exemplo, alguns traços da personalidade de uma menina muito bonita, inteligente e doce, namorada de um amigo, com quem passei alguns dias desse verão.

Ela tem medo de bichos. Quaisquer bichos. Gatos, cachorros, hamsters, borboletas, moscas, formigas, peixes. A menina tem bichofobia. Presenciei uma cena de terror genuíno quando o filhote de beagle de um amigo em comum resolveu cheirar-lhe os dedos dos pés. Sim, amigos, um filhotinho de beagle. Um Snoopy bebê, de dois meses de idade, chamado Schnaps (o que, aqui pras bandas do Sul, se entende por trago, bebedeira, porre). A doce menina teve um surto fóbico, tadinha. E tadinho do Schnaps, que se assutou ainda mais do que ela, e correu pra trás dos calcanhares do dono, onde ficou totalmente escondido.

Seguindo a trilha de terror, uma dessas mariposas grandes que voam à noite veio rondar a lâmpada acesa do alpendre onde estávamos tomando cerveja e jogando cartas. Novo surto. Essa nós matamos, era mais fácil.

Aí perguntei à mocinha doce:

— Puxa, deve ser difícil pra você, né? — Juro que tentei expressar simpatia com a pergunta, afinal, deve ser difícil mesmo.

— Na verdade, seria muito mais fácil se as pessoas parassem de querer conviver com bichos e os deixassem no zoológico, que é o lugar deles. Tanta criança precisando e as madames criando cachorrinho. Eu não gosto de bicho, eu gosto é de gente.

— Eu também gosto de gente, claro, mas gosto de bicho também... — Respondi, meio contrafeita. — Mas tu tens alguma razão em especial pra não gostar de bichos? Tipo um trauma, ou uma experiência ruim, ou é só falta de empatia com eles mesmo?

— Acho que os bichos são muito traiçoeiros. A gente nunca sabe o que eles vão fazer, e eles sempre fazem alguma coisa que nos chateia, no final das contas.

— Ah, tá... — Em evasiva, me declarei vencida.

Nem precisaria comentar a ingenuidade do argumento da menina, afinal, o que ela descreveu me pareceu muito mais coerente com gente do que com bicho. Mas, só pra ilustrar e encerrar a história, vou contar que ela, dois dias antes, ficou esperando pelo namorado por QUATRO HORAS (sim, em LETRAS CAPITAIS), sentada sobre a mala, no saguão da rodoviária, porque o lindinho resolveu passar na casa da mãe pra dar um beijinho antes de ir buscá-la. E não tinha trânsito, que fique bem dito.

Sim, claro, os bichos é que são imprevisíveis e nos aborrecem com seus comportamentinhos.

4 comentários:

Carol disse...

Coitadinho do Schnaps :)))
Acho que ela transferiu para os animais o medo de se magoar, o medo das traições humanas. Bjo linda

Raquel, Augusto e Agatha Drehmer disse...

Cib, recebi o prêmio Arte y Pico e o repassei para o Monólogo. Dê uma olhadinha lá no meu blog em como funciona. Se quiser ir direto para a postagem, aí vai o link: http://raqpaulino.blogspot.com/2009/03/obrigada-arte-y-pico.html
Beijooo!

Cib disse...

Carol, concordo contigo, ela transferiu pros bichos aquilo que não seria suportável nas pessoas. E tadinho do Schnaps! Beijo, e linda és tu!
Raq, nem sei o que te dizer, fora que já te considero pra cara...melo!
Beijo!!!!

Anônimo disse...

OI Cibele,
É a primeira vez que passo por aqui e estou adorando teu estilo (já dei muita risada).
Sou amiga da Carol (aquela da Janela).
Sou criadora de cães e posso te afirmar, categoricamente, que adoro pessoas, mas se quiser contar com fidelidade mesmo, escolha o cachorro.Pobre da namoradinha de teu amigo...se ela tivesse um cachorrinho pelo menos não ficaria sozinha aquelas 04 horas na rodoviária.
Se tiver um tempinho dá uma passadinha lá no meu blog:
http://pensoinsisto.blogspot.com/
Vou voltar com mais frequencia.
bjs,
Marilisa